Transformação de Claims

Ao autenticar um usuário, nós podemos além de armazenar no token o seu nome, algumas outras propriedades que o descrevem, tais como: e-mail, papéis (roles), etc. Com isso, nós teremos diversas outras características dele além de apenas o nome e os papéis que ele possui dentro da aplicação.

Como sabemos, essas informações são expressadas através de claims. Ao autenticar, nós podemos criar uma coleção de claims contendo todas as informações sobre o respectivo usuário. Como as claims estão em todo lugar, o ASP.NET fornece um recurso específico que permite a transformação de claims, ou seja, além de utilizar informações que temos do lado do servidor para descrever o usuário, para complementar extraindo dados da requisição e incluir na coleção de claims.

Para customizar o tranformador, devemos implementar a interface IClaimsTransformer, e através do método TransformAsync podemos incrementar mais informações sobre o usuário e mais tarde utiliza-las para autorização de algum recurso específico. No exemplo abaixo, estamos extraindo a cultura (via header Accept-Language) da requisição e incluindo no ClaimsPrincipal gerado:

public class CultureToClaimTransformer : IClaimsTransformer
{
    public Task<ClaimsPrincipal> TransformAsync(ClaimsTransformationContext context)
    {
        var principal = context.Principal;

        if (principal.Identity.IsAuthenticated)
        {
            var culture = StringValues.Empty;

            if (context.Context.Request.Headers.TryGetValue(“Accept-Language”, out culture))
                ((ClaimsIdentity)principal.Identity).AddClaim(new Claim(“Culture”, culture.ToString()));
        }

        return Task.FromResult(principal);
    }
}

Só que a classe por si só não funciona. Precisamos incluir a mesma na execução, e para isso, recorremos ao método UseClaimsTransformation para indicar ao runtime do ASP.NET a classe que faz a transformação de claims. Depois do MVC devidamente configurado, estamos utilizando a autenticação baseada em cookies para o exemplo, indicamos a instância da classe CultureToClaimTransformer para a propriedade Transformer.

public class Startup
{
    public void ConfigureServices(IServiceCollection services)
    {
        services.AddAuthentication();
        services.AddMvc();
    }

    
public void Configure(IApplicationBuilder app)
    {
        app.UseCookieAuthentication(new CookieAuthenticationOptions()
        {
            LoginPath = “/Aplicacao/Login”,
            ReturnUrlParameter = “ReturnUrl”,
            AutomaticAuthenticate = true,
            AutomaticChallenge = true
        });

        app.UseClaimsTransformation(
new ClaimsTransformationOptions()
        {
            Transformer = new CultureToClaimTransformer()
        });

        app.UseMvc(routes =>
        {
            routes.MapRoute(
                name: “default”,
                template: “{controller=Aplicacao}/{action=Index}/{id?}”);
        });
    }
}

Depois de toda a configuração realizada, nós vamos codificar o nosso controller. Ele possui apenas dois métodos: um que exibe informações e o outro que onde de fato realizamos o login. O método que exibe as informações (Index) está decorado com o atributo AuthorizeAttribute, que não permitirá usuários não autenticados acessá-lo. Já o segundo método serve para autenticar o usuário; em uma aplicação real, este método deve receber as informações postadas em um formulário para validar primeiramente se o usuário existe (em uma base de dados, por exemplo), e caso verdadeiro, aí sim devemos proceder com a autenticação.

public class
AplicacaoController : Controller
{
    [Authorize]
    public IActionResult Index()
    {
        return View();
    }

    
public IActionResult Login()
    {
        HttpContext.Authentication.SignInAsync(
            CookieAuthenticationDefaults.AuthenticationScheme,
            new ClaimsPrincipal(
                new ClaimsIdentity(new[] { new Claim(ClaimTypes.Name, “Israel Aece”) }, 
                CookieAuthenticationDefaults.AuthenticationScheme))).Wait();

        
return Redirect(Request.Query[“ReturnUrl”]);
    }
}

Por fim, ao rodar a aplicação e exibir a coleção de
claims do usuário logado, nós teremos duas: uma com o nome do usuário e a outra com a cultura que foi passada pelo navegador que o usuário está utilizando para acessar a aplicação:

Externalizando a Emissão de Tokens

No artigo anterior eu mostrei como emitir tokens para aplicações que consomem APIs. Como podemos notar naquele artigo, o mesmo projeto e, consequentemente, a mesma aplicação, é responsável por gerenciar, validar e autenticar os usuários. Enquanto isso é o suficiente para aplicações pequenas, pode não ser muito produtivo e de fácil gerenciamento quando temos outras aplicações que também precisam de autenticação.

Se for analisar mais friamente, talvez até quando temos uma pequena aplicação, seja mais viável manter uma segunda aplicação que seria responsável por todo o processo de autenticação, e a medida em que novos serviços são criadas, eles confiariam neste autenticador que já está pronto.

O que faremos neste artigo é separar o código que é responsável por validar e emitir os tokens da aplicação (API) que consome o token e libera o acesso aos recursos mediante a validade do mesmo. A imagem abaixo ilustra o fluxo que será executado a partir de agora:

Note que o Autenticador é responsável por validar e emitir o token para o usuário que se identifica para ele; o Serviço é onde está hospedada a aplicação que irá consumir o token. Basicamente temos que dividir aquele código do outro artigo em dois projetos, ou seja, não há necessidade nem de por nem tirar qualquer linha de código. O serviço passa a ter apenas o código que pluga no pipeline de execução a validação do token:

public void Configuration(IAppBuilder app)
{
var config = new HttpConfiguration();

    ConfigureOAuth(app);
WebApiConfig.Register(config);

    app.UseWebApi(config);
}

private static void ConfigureOAuth(IAppBuilder app)
{
app.UseOAuthBearerAuthentication(new OAuthBearerAuthenticationOptions());
}

O restante do código, que é onde configuramos a validação do usuário, é movido para a aplicação chamada de Autenticador. A aplicação cliente passa a apontar para os endereços, agora em diferentes locais, para emitir o token em um deles, e passar o token gerado para a aplicação.

using (var client = new HttpClient())
{
using (var tokenResponse = await
client.PostAsync(“http://www.autenticador.com.br:81/issuer/token“, CreateContent()))
{

        using (var requestMessage =
new HttpRequestMessage(HttpMethod.Get, “http://www.servico.com.br:82/api/Test/GetData“))
{

}
}
}

Por fim, se rodarmos ele não irá funcionar. O motivo é que o token é protegido utilizando as chaves que estão no elemento machineKey dentro do arquivo Web.config. Se as aplicações (Autenticador e Serviço) tiverem chaves diferentes, então o token gerado pelo Autenticador não será possível ser consumido pelo Serviço. O que precisamos fazer aqui é gerar uma chave e copiar a mesma para as duas aplicações. Para gerar essas chaves, podemos recorrer à um recurso que temos no próprio IIS (mais detalhes aqui). Abaixo tem o arquivo Web.config já com esta configuração realizada. Vale lembrar que o tamanho das chaves foi reduzido por questões de espaço.

validationKey=”D2E9D0907…47BC9F8A598″
decryptionKey=”7278E7F93…658B70DE07E21CF”
validation=”SHA1″
decryption=”AES” />

Depois desta informação espelhada em ambas as aplicações, já é possível uma das aplicações gerar o token e a outra consumi-lo.

Emissão de Tokens no ASP.NET Web API

Em aplicações Web é comum o cliente precisar se autenticar para ter acesso à determinados recurso da aplicação. Quando o usuário se identifica para a aplicação, e se ela validar o mesmo, gravamos um cookie no navegador para que ele possa manter a autenticação válida durante a sua navegação (e enquanto o mesmo não expirar), evitando assim que ele tenha que se (re)autenticar toda cada vez que quer acessar um recurso protegido.

Quando estamos trabalhando com serviços, onde são outros sistemas que os consomem, precisamos autenticar a aplicação/usuário para que ele possa acessar os recursos que eles disponibilizam. Enquanto aplicações Web (que possuem uma interface) mantém um cookie, os serviços lidam de uma forma diferente, ou seja, recorrem à tokens para autenticar e identificar o chamador, e a partir deste momento, o mesmo deverá apresentar o token a cada vez que deseja acessar algum dos recursos expostos pelo serviço.

Ao invés de termos controllers e actions que servirão para esse tipo de atividade, podemos (e devemos) recorrer à alguns recursos que a própria tecnologia nos oferece. Quando optamos por hospedar e executar o ASP.NET Web API no OWIN, ele já traz alguns middlewares para autenticação, e entre eles, a possibilidade de utilizar o a tecnologia OAuth2 para guiar todo o processo de autenticação. O primeiro passo é instalar os seguintes pacotes (via Nuget): Microsoft.Owin.Host.SystemWeb, Microsoft.AspNet.WebApi.Owin e Microsoft.Owin.Security.OAuth.

Esses pacotes irão disponibilizar um conjunto de classes para trabalharmos com o OWIN dentro do ASP.NET Web API. O primeiro passo é realizar duas configurações dentro da classe Startup (exigência do OWIN): um middleware que será responsável pela geração de tokens e o outro que terá o papel de validar os tokens apresentados para o serviço antes deles serem executados.

public class Startup
{
    public void Configuration(IAppBuilder app)
    {
        var config = new HttpConfiguration();

        ConfigureAuthentication(app);
        WebApiConfig.Register(config);
        app.UseWebApi(config);
    }

    private static void ConfigureAuthentication(IAppBuilder app)
    {
        app.UseOAuthAuthorizationServer
        (
            new OAuthAuthorizationServerOptions()
            {
                AccessTokenExpireTimeSpan = TimeSpan.FromHours(1),
                AllowInsecureHttp = true,
                TokenEndpointPath = new PathString(“/issuer/token”),
                Provider = new OAuthAuthorizationServerProvider()
                {
                    OnValidateClientAuthentication = async ctx =>
                    {
                        await Task.Run(() => ctx.Validated());
                    },
                    OnGrantResourceOwnerCredentials = async ctx =>
                    {
                        await Task.Run(() =>
                        {
                            if (ctx.UserName != “Israel” || ctx.Password != “12345”)
                            {
                                ctx.Rejected();
                                return;
                            }

                            var identity = new ClaimsIdentity(
                                new[] {
                                        new Claim(ClaimTypes.Name, ctx.UserName),
                                        new Claim(ClaimTypes.Role, “Admin”)},
                                ctx.Options.AuthenticationType);

                            ctx.Validated(identity);
                        });
                    }
                }
            }
        );

        app.UseOAuthBearerAuthentication(new OAuthBearerAuthenticationOptions());
    }
}

Através do método UseOAuthAuthorizationServer realizamos as configurações do emissor de tokens. As propriedades expostas pela classe OAuthAuthorizationServerOptions nos permite customizar diversas informações críticas para o processo de emissão. Entre elas temos o endpoint em que os clientes deverão visitar para gerar o token, o tempo de expiração para cada token e, por fim, e não menos importante, o provider. É o provider que podemos customizar a validação do usuário, verificando se ele é ou não um usuário válido. Para essa customização, basta herdar da classe OAuthAuthorizationServerProvider e sobrescrever (se assim desejar) diversos métodos para controlar todos os eventos gerados pelo protocolo OAuth2.

Para o exemplo estou optando por definir a propriedade AllowInsecureHttp como true, evitando a necessidade de expor o serviço sobre HTTPS, mas é importante que isso seja reavaliado antes de colocar em produção. Outro detalhe é que estou definindo, em hard-code, o nome e senha válidos; em um cenário real, é neste momento que deveríamos recorrer à algum repositório de usuários e validar se ele existe lá.

Depois de configurado o emissor de tokens, o middleware que habilitamos através do método UseOAuthBearerAuthentication é o responsável por validar os tokens que são enviados nas futuras requisições e identificar se eles são ou não válidos.

O fluxo necessário para a geração do token e para envio subsequente em novas requisições é bastante simples. Basta realizar um post para o endereço configurado na propriedade TokenEndpointPath, passando no corpo da mensagem três parâmetros: grant_type, username e password. Esses parâmetros serão utilizados pelo protocolo OAuth para validar o usuário e gerar o token caso ele seja válido. O parâmetro grant_type indica ao OAuth o tipo de autenticação que queremos fazer; neste caso o valor deverá ser “password”. Já os parâmetros username e password são autoexplicativos.

Se o usuário for válido, então o resultado será devolvido através do corpo da mensagem de resposta, formatado em JSON. Abaixo está um exemplo da resposta, mas o token foi reduzido por questões de espaço. O seu tamanho é muito maior que isso.

{
    “access_token”:”CPIA6Ha-9Bg2Yh8PZD-7Terzl9At…..UBp-WlpkNYn5ioD85U”,
    “token_type”:”bearer”,
    “expires_in”:3599
}

Agora compete à aplicação que consome este serviço armazenar o token e embutir nas futuras requisições. A exigência do protocolo é que o token seja incluído através do header Authorization na requisição, especificando além do token, também o seu tipo, que neste caso é bearer, e ele também é devolvido pelo emissor do token.

Para realizarmos os testes, vamos criar um controller e expor um método para que seja consumido apenas por usuários que estejam devidamente autenticados. Para isso, basta decorar o controller ou a ação com o atributo AuthorizeAttribute, conforme podemos visualizar no código abaixo:

public class TestController : ApiController
{
    [HttpGet]
    [Authorize]
    public string GetData()
    {
        return “Testing…”;
    }
}

Para exemplificar o consumo por parte do cliente, estou utilizando uma aplicação console para solicitar a emissão do token, e na sequência invocamos o método GetData da API passando o token como header, conforme o fluxo que foi explicado acima.

private async static void Invoke()
{
    using (var client = new HttpClient())
    {
        using (var tokenResponse = await client.PostAsync(“http://localhost:1195/issuer/token&#8221;, CreateContent()))
        {
            var tokenBody = await tokenResponse.Content.ReadAsStringAsync();
            dynamic parsedTokenBody = JsonConvert.DeserializeObject(tokenBody);

            using (var requestMessage = new HttpRequestMessage(HttpMethod.Get, “http://localhost:1195/api/Test/GetData&#8221;))
            {
                requestMessage.Headers.Authorization =
                    new AuthenticationHeaderValue(
                        parsedTokenBody.token_type.ToString(),
                        parsedTokenBody.access_token.ToString());

                using (var responseMessage = await client.SendAsync(requestMessage))
                {
                    var responseBody = await responseMessage.Content.ReadAsStringAsync();

                    Console.WriteLine(responseBody);
                }
            }
        }
    }
}

private static FormUrlEncodedContent CreateContent()
{
    return new FormUrlEncodedContent(new[]
    {
        new KeyValuePair<string, string>(“grant_type”, “password”),
        new KeyValuePair<string, string>(“username”, “Israel”),
        new KeyValuePair<string, string>(“password”, “12345”)
    });
}

Um detalhe importante é que dentro do controller, podemos fazer o (down)casting da propriedade User e chegar na instância da classe ClaimsPrincipal e, consequentemente, acessar o conjunto de claims que foi gerada pelo emissor do token para este usuário. Como disse anteriormente, claims estão em todo lugar.

((ClaimsPrincipal)this.User).Claims.First().Value;

Claims em todo lugar

Há algum tempo eu falei aqui sobre o WIF (Windows Identity Foundation), que consiste em um framework para tornar o gerenciamento de identidades em aplicações .NET mais simples. Ele traz uma série de funcionalidades, que quando utilizado nas aplicações, nos permite lidar com a autenticação e autorização de uma forma mais poderosa, conseguindo inclusive, terceirizar/centralizar isso para uma outra aplicação.

O modelo de objetos do WIF, definia duas novas interfaces: IClaimsIdentity e IClaimsPrincipal, que herdavam de duas interfaces já existentes no .NET Framework desde a sua primeira versão (IIdentity e IPrincipal, respectivamente). Apesar de indiretamente compatíveis com os principals do .NET (WindowsPrincipal e GenericPrincipal), havia um trabalho extra a se fazer quando a conversão fosse necessária, ou melhor, quando a aplicação queria trabalhar com claims ao invés do modelo tradicional.

Com o .NET Framework 4.5, a Microsoft decidiu incorporar o modelo de claims diretamente no .NET Framework ao invés disso ser fornecido exclusivamente pelo WIF. A partir da versão 4.5, o .NET Framework passa a fornecer nativamente os tipos necessários para trabalhar com claims, e ainda, fez com que as classes WindowsPrincipal e GenericPrincipal herdem de ClaimsPrincipal e, consequentemente, toda e qualquer aplicação ao ser migrada para a versão 4.5 do .NET, automaticamente poderá fazer uso de claims. O diagrama abaixo mostra a hierarquia da herança entre essas classes:

System.Security.Claims é um novo namespace que foi adicionado ao .NET Framework, com a finalidade de agrupar os tipos disponíveis para realizar o trabalho via claims. Abaixo temos um exemplo de como podemos fazer o uso de claims em aplicações que utilizam, por exemplo, um modelo de autenticação customizado:

using System;
using System.Security.Claims;
using System.Security.Principal;

namespace App
{
class Program
{
static void Main(string[] args)
{
var principal =
new GenericPrincipal(new GenericIdentity(“Israel Aece”), new [] { “Admin”, “IT” });

foreach (var item in principal.Claims)
Console.WriteLine(“{0}: {1}”, item.Type, item.Value);
}
}
}